29 de dezembro de 2010

Inominável…

… Isso é o que resume o que sinto. É tanto e tão forte que, só pra variar, me botou doente. Ferida, cansada, fugitiva em mim, cativa do que é meu. Meu defeito, minha identidade.

Reparei hoje que tem 11 dias que eu não escuto música, hoje compensei um tanto escutando umas coisas “novas” do Belchior.. bem, são novas pra mim!

Esse tempo todo no hospital entre idas e vindas pra não enlouquecer, me está sendo útil pra reflexão. Sofri muito. De abandono, de solidão, de medo, de paranóias, mas também descobri mãos estendidas, vozes que de longe, no aparelho telemóvel me fizeram sentir melhor sob muitos aspectos.

Descobri que minha fortaleza é covarde. Que me escondo quando penso lutar, que enfrento algumas dificuldades meio que à revelia. Mas estou crescendo. Se realmente vou colocar as tempestades pra fora quando tudo isso acabar, ainda não sei de fato. Mas as vontades ainda permanecem. EU QUERO!

Em onze dias de hospital li 3 livros, abortei um, terminei uma revista de criptodruzadas, uma de palavras cruzadas e estou na metade de uma só de sudoku. E sudoku é algo que realmente me ajuda por manter o pensamento ocupado na resolução dos enigmas, minha cabeça solta tem sido minha pior inimiga.

Prioridade é a volta pra terapia seja lá do jeito que for, eu tenho de voltar. É a baliza que me falta. O ano que vem, que chega em dois dias, me parece ainda muito “que vem”. Estou temerosa de botar asas de fora e ter de recuar, o recuo é sempre mais difícil que os primeiros passos.

Em outros tempos talvez eu fizesse aqui uma sinopse do que li, mas não o farei. Somos todos grandinhos, vejam lá o que sentem pela capa e leiam os livros. Todos estão valendo capa gota de tinta que foi usada nas impressões.

Mas olha, eu nem cheguei a falar de fato o motivo de estar há tanto no hospital, não falei do estado geral da vó. Ela tá bem, foi internada pra fazer exames. Só por isso não se justificaria tanto desgaste e sofrimento, mas todos os exames podem resultar em um novo cancer, em mais problemas pra quem já bateu de frente com tantos.. eu me preocupo.

Os vizinhos de leitos, os vizinhos de andar, os sofrimentos dos que enterram entes queridos, o cheiro do hospital, a sombra da morte é sempre mais presente que os esforços pela vida, pelo menos num hospital em que se trata essa doença tão cruel… ainda mais sendo a ala da terceira idade, a resistência muitas vezes é bem menor e, mais frequente do que imaginamos, insuficiente pra vitória. É opressor.

Tudo isso se torna maior, mais forte e mais sombrio quando anoitece, eu passo as noites quase em claro. Tenho dificuldades pra dormir, o sono é leve, os gritos, os lamentos, as campainhas de emergência dos quartos falam alto. Eu estou alerta pra caso minha avó ou a vizinha de leito precisem de mim. Sempre acho que cada tossinha é um pedido de ajuda. Cochilo durante o dia, no cantinho… elas também.

Estamos todos cansados, a vó tem desfiado o rosário de reclamações que as vezes é maior que minha paciência, fico triste com ela, por ela também. Sei que é difícil, mas poxa… vamos fazer uma forcinha pra não ficar pior… por misericórdia de nossos nervos também, né….

Fernando tem sido meu melhor companheiro como em todo o sempre. Telefonemas, conversas, alertas, companheirismos… é a pessoa mais especial na minha vida. Exigi um tanto dos amigos eu acho… quando não se conta com um, clama-se ao outro. Tenham paciência amigos, tudo isso há de passar.

Muitas coisas estão acontecendo e eu nem vi. O natal foi um exemplo, dormimos as dez da noite como sempre, comida de hospital, as duas amargas por estarmos longe dos que amamos. Acordei algumas vezes antes da meia noite, mandei alguns SMSs, mas não posso dizer que foi “Um Natal”. O primeiro dentinho da Aninha caiu, não estava junto, mas outros vão cair e eu que vou segurar! A casa nova está sendo preparada e eu não estou fazendo parte. Mas tudo isso vai ser diferente… eu tenho mais que certeza.

E hoje, quarta-feira, 29 de dezembro, existe um vislumbre de alta pra manhã do dia 31… quase choro de imaginar. Mas vamos viver o hoje. E por falar em hoje, vou dormir por uma hora na minha cama aqui do lado, porque logo vou ao hospital novamente… e mais uma vez, desencontrei da pequena. Está na outra casa, aqui está vazio. Mas meu coração é cheio do amor dela, do riso dela, daquele cheiro e de saudade também… por que não dizer?!…

 

vale

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