27 de abril de 2010

Então é coisa de jeito?

E meu jeito é esse: Passional!

É febril, tátil, sensorial. Tudo sempre é de verdade e pulsa e sangra. É mais que sonhar ou que viver no mundo dos sonhos. É viver o sonho, ou melhor, a intensidade descontrolada do sonhar.

Há quem diga que os humanos sonham em preto e branco, mas no meu sonho tem cor, tem cheiro, tem gosto, tato, sensações... frequentemente eu acordo dolorida, chorando ou ofegante ou rindo.

Impressão que eu tenho é que quando descemos à vida, alguém nos dá uma caixa de lápis de cor, dessas de 12 cores, para "animar" um pouco esta vida. Eu trouxe uma maleta com 108 cores, aquareláveis, além dos lápis que imprimem texturas, um esfuminho e dois pincéis.

Moral dessa história? Eu acho que eu vim pro lugar errado, claro. Me sinto inadequada, excessiva, intensa demais. Olho ao redor e vejo a objetividade, a linha reta. O livro da vida escrito sempre em times ou arial, formatado, espaçamento de 1,5 completamente dentro das normas da ABNT. Vez por outra uma transgressão e uma nota dos lápis coloridos.

As páginas da minha vida são em Canson, têm colagens, marcas de tinta, páginas rasgadas, umas por mero acidente mas muitas eu fiz de propósito.

Durante aproximadamente 25 anos desta vida eu me apliquei ferozmente em me comparar com os outros. Condenada, incapaz, infeliz, inadequada, feia, limitada e burra foram alguns nomes que consegui pra mim. E uma sensação amarga na boca do estômago, um sentimento eterno de rejeição incondicional.

Depois tentei me conformar e, meio triste, tentei entender as minhas diferenças, procurar porquês, investigar se outras pessoas tinham pelo menos um traço que indicasse que também convivem com a insanidade a espreitá-las por sobre os ombros.

Um belo dia, li em qualquer lugar que não me recordo:
Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito.
E compreendi imediatamente qual deveria ser o próximo capítulo: "Aprender uma maneira de conviver com isso, de canalizar minhas loucura pra algo producente". Estou no início deste estágio. É difícil descobrir um lugar, reconstruir uma identidade dessa vez sólida embasada em valores e princípios fortes. Conseguir um meio de ganhar dinheiro, me estruturar, me assumir como sou... enfim, me integrar, dentro do possível é claro, à sociedade ao invés de me lamuriar uma vida inteira por não ter nascido normal.

E vou dizer, não está moleza! Um passo pra frente e três ou quatro pra trás. Cai num buraco e dana a cavar pra baixo... momentinho de reflexão, daí volta a cavar pra cima, sai do buraco. Semi-morta [eu gosto do hífen, não vou abolí-lo], se esconde num cantinho qualquer pra recuperar o fôlego, volta  a caminhar no mesmo ritmo lento do início.

Mas este é o jeito que eu encontrei de não me retirar desta vida, de não "pipocar na missão". Talvez haja uma outra maneira de ver as coisas e eu logo a descubra, como também pode ser que eu nunca saiba mais do que sei agora sobre mim e passe a vida inteira andando a passos de tartaruga com medo de fracassar.

O fato é que me parece mesmo ser coisa de jeito....

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